terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Profissional faz-tudo e a dança do quadrado

Bom, é mais ou menos assim:
Sou formada em desenho industrial, trabalho na área de design há 12 anos, faço tanto a parte offline (impressos) quanto a parte online(web e multimídia). O problema é que na parte web, resolvi me especializar em criação, layout e usabilidade. Para tanto, meio que deixei de lado a questão do "aprender a programar", pois as empresas que me contratam geralmente têm programador disponível para implementar meus layouts. Como designer, não vejo muita necessidade de aprender linguagens específicas de programação, pois além destas estarem mudando o tempo inteiro, não foi a área que escolhi trabalhar. Além do quê, nesta área as pessoas deveriam ter a consciência das suas limitações e que sempre existe um profissional para o trabalho que você procura.

Pois bem... Isto posto, confesso que com esta opinião perdi diversos jobs. Como todos sabem, os empregadores e contratantes de trabalhos "freelance" sempre vão querer o profissional que saiba mais coisas (não necessariamente o mais qualificado) por um menor preço. No caso da web, o que mais vemos em anúncios de empregos e vagas é justamente isso: um profissional que saiba de tudo um pouco: design, criação, publicidade, linguagens de programação, marketing, etc.

Mas eu me pergunto (e pergunto a você que está a procura de vagas): Será que o cara que sabe " de tudo um pouco" não está a sabotar o mercado, e o que é pior, sabotando a si próprio? Sim, porque corre o sério risco de querer fazer tudo ao mesmo tempo e no final não fazer nada direito.
Eu pessoalmente, sei o trabalho que dá estudar programação e botar um site para funcionar, pois tive a oportunidade de trabalhar ao lado de programadores. E foi o que me deu mais certeza ainda de que não adiantaria bulhufas eu me meter a estudar uma disciplina tão complicada e chata, que não tem NADA a ver com o que eu me proponho a fazer. Os caras estudam anos e anos, ralam, se matam de trabalhar e vivem para isso (e pensando nisso) o tempo inteiro, quem sou eu (uma pessoa com uma vaga noção de programação) para pegar o trabalho deles? Costumo usar este exemplo para ilustrar o que enfrento todos os dias como designer: simplesmente imagine o contrário. Embora programadores tenham uma vaga idéia de layout, saibam "mexer no photoshop" e fazer alguns "efeitos pré-estabelecidos", eles não sabem teoria de cor, gestalt e regras de composição. E nem têm obrigação de saber, oras! Afinal, para quê existem os designers? Para quê fazemos 4 anos de faculdade e mais pelo menos 3 anos em média de especialização (sem contar os anos de autodidatismo gastando os tubos com livros que ensinam teoria e não softwares)?

É exatamante aí que eu quero chegar: se existem profissionais distintos, com habilidades distintas e conceitos distintos, por quê diabos o empregador continua querendo um faz-tudo como há mais de 10 anos atrás, época jurássica em que quem dominava a internet eram programadores que se auto-denominaram "webmasters"??? Justamente pela falta de profissionalismo e divisão de tarefas. Ou vai ver não precisava mesmo, pois o "mega-uber-web-master" fazia tudo: inventava o nome da empresa, criava domínio, fazia a arquitetura da informação (ou seja, organizava os conteúdos), o layout do site (com direito a amarelos de fundo com letras brancas e gifs animados super radicais e inovadores na época), atualizava o conteúdo, gerenciava as contas de e-mail, fazia o mail mkt e a divulgação maciça do site em panfletos e banners eletrônicos (geralmente gifs animados tb), instalava a rede, dava manutenção nas máquinas, fazia backup e mantinha o servidor funcionando, atendia os clientes e até servia cafezinho, ainda ganhando uma merreca que o dono da empresa provavelmente pagava.

Com o tempo, as pessoas que trabalhavam neste esquema altamente precário viram que precisariam se especializar, estudar mais e se aprofundar numa área específica. Isso já acontece há algum tempo. Mas por quê diabos os empregadores ainda não percebem isso? Tudo para gastar menos, ou apenas um retrocesso?

Programadores e designers: uní-vos, pois só assim mostraremos que somos bons naquilo que fazemos; que podemos fazer melhor trabalhando em equipe e com compreensão; e por favor, cada um no seu quadrado, ok?

A propósito: se souberem de algum programador para trabalhar em sociedade com designer em freelas, por favor peçam para entrar em contato, estou precisando urgentemente.

***P.S. Dedico este post a meu amigo/programador Ricardo. Na verdade o post só surgiu por causa de uma conversa/discussão/pega-pra-capar nossa no supermercado ontem.
À ele a aos demais amigos programadores: I still love you, guys!

4 comentários:

Anônimo disse...

ahahaha afff. Faltou listar os designers que são secretários, officeboys, enfermeiros, psicólogos, decoradores, etc. Tá certo que a gente tem que ter pelo menos uma noção do que existe...mas fazer é uma história diferente...também já perdi muitas oportunidades por não saber nada de web...mas aparecem outras justamente nas áreas que gosto. Unir força é o melhor e o mais sensato caminho.

Ricardo Ferreira disse...

Primeiramente, obrigado. Fiquei muito feliz pela homenagem.

Em segundo lugar, já trabalhei em agência e sei muito bem como funcionam as especializações no ramo web. Concordo sim que as especializações são importantíssimas para um trabalho de qualidade.

No País das Maravilhas das agências e das fábricas de software, onde o que conta é produtividade (com qualidade, obviamente) e onde temos clientes que pagam dezenas ou até centenas de milhares de reais por um projeto web, tudo isso funciona muito bem.

Já no mundo real, no mundo dos freelas, a coisa muda completamente de figura. Nesse caso é importante o freeleiro ser minimamente competente, mesmo que não seja especialista, em todos os ramos da web: programação, design, interface, entre outros.

Normalmente os trabalhos freela voltados para web que contenham um mínimo de engenharia, um mínimo de complexidade, são demandados por clientes low profile, profissionais liberais, ONGs, etc. Esses clientes raramente se dispõem a pagar uma quantia realmente justa pelo trabalho. Pra dizer a verdade nunca vi um desses clientes desembolsarem mais de R$ 3000,00 em um projeto web.

Mas enfim, suponhamos que encontramos um cliente que se disponha a pagar essa quantia pelo projeto. Aderindo ao seu maravilhoso mundo da especialização e levando em conta que um projeto demande um designer, um arquiteto de informação, um interface e um programador web (e isso porque estou concordando com a premissa de que a equipe é auto-gerenciável e não precisa de um "gerente de projeto"). Temos nessa brincadeira quatro profissionais envolvidos. Supondo que esse projeto dure um mês, na perspectiva otimista, dois meses na média, e três meses na pessimista.

Partindo da sua maravilhosa premissa da especialização, consideramos também que nenhuma área é mais importante que a outra, afinal somos todos especialistas, e todas as áreas citadas têm o seu nível de complexidade e, sendo assim, todas tem o mesmo grau de importância, portanto a grana é dividida igualmente para todos os profissionais do projeto.

Voltando ao nosso freela hipotético, escolhendo a média do prazo, temos R$3000,00 / 4 profissionais / 2 meses, o que dá uma quantia de R$ 375,00 por mês pra cada um. Na perspectiva pessimista, temos R$3000,00 / 4 profissionais / 3 meses, resultando em R$250,00 por mês para cada profissional.

Assim, prefiro ir pro Setor Comercial Sul vigiar carro, que eu ganho muito mais.

Anônimo disse...

Ótimo post!
ASS: Amigo programador e precário no design =)

Luana Wernik disse...

Ok, tá certo que de uns tempos para cá a realidade me fez uma designer muito mais prática e sensata, mas ainda há em mim um mínimo resquício de Alice, que quer e luta para que o pequeno cliente/empresa veja as coisas de outra forma.

Investimento com retorno. É assim que o trabalho deve ser encarado. Tanto de tempo/satisfação/ reconhecimento/dinheiro para quem executa quanto retorno financeiro e de outras formas possíveis para quem investe. Essa é premissa para um job satisfatório para as 2 partes.
Contando que o último item é o mais difícil de ser satisfeito, se eu conseguir pelo menos 1 desses quesitos no job, já estou feliz. Já tive jobs em que só consegui satisfação pessoal por fazer, outros apenas dor de cabeça, com direito a calotes e tudo o mais (vc bem sabe).
Apesar de tudo estou fazendo o que gosto, o que escolhi e lutei para fazer, e o que tenho certeza que posso melhorar a cada dia.

No meu País das Maravilhas das agências e das fábricas de software, os pequenos empresários aprendem com os grandes, e se querem ter o mesmo sucesso, vão pelo mesmo caminho.

O conformismo ainda não chegou aqui e parou. Not yet.

A propósito, vigiaê pra mim, tio!
=)