quinta-feira, 13 de maio de 2010

Exposição ENTRE.LINHAS - Arte digital e Design



















E pra comemorar meus 15 anos de design...
Me convidaram para uma exposição de... Arte Digital (?) em Pirenópolis (?) e eu aceitei =) Por que não?

Tá certo que eu nunca enxerguei meu trabalho como "arte", mas depois de vasculhar empoieirados bits no meu agora falecido Frank (como chamava meu PC), vi que certamente poderíamos aproveitar algo.
Logo que cheguei à faculdade me deparei com o eterno ranço existente entre estudantes de desenho industrial e de artes plásticas. "Não, isso não tem uma utilidade, logo isso não é design". E, realmente se você pensar friamente e tentar encaixar tudo milimetricamente em seu papel, isso faz sentido. Porém, se você como designer busca melhorar seu trabalho a cada dia não levando em conta movimentações artísticas, novos e antigos padrões estéticos e principalmente não se dá a abertura necessária para que seu trabalho flua; sinceramente você está sendo um mero "executor" do projeto de algum chefe palpiteiro.

Penso que o design expressa primordialmente uma necessidade de um público, um mercado, um cliente. Mas no fundo, sendo uma necessidade coletiva, por quê não pode esta necessidade ser estética, visual pura e simplesmente? Será que TODO design precisa ser produzido industrialmente e tem que ter uma utilidade concreta? E mais: pra quê rotular toda e qualquer peça?

O cotidiano do designer roots está repleto de referências artísticas: sua camiseta, seu desktop, sua mochila, seus moleskines (caderninho de desenhos), seu estojo de lápis, suas roupas e all star customizados, sua caneca favorita... São todos itens de design, pois foram produzidos industrialmente e têm utilidade expressa em suas funções principais. Mas, repare o conteúdo e a forma: na camiseta, estampa da Amelie Polain, um filme considerado de arte. No desktop toys de animações da Pixar e Dreamworks divindo espaço com porta-canetas do Mondrian. Na mochila, serigrafia de caveirinhas ou manchas de tinta abstratas. No moleskine não precisa nem dizer que quem tem um desses gosta muuiiiiito de desenhar, e geralmente o desenho é considerado uma forma de arte. Em seu estojo de lápis, nanquim em várias espessuras e alguns lápis coloridos em cores primárias para qualquer emergência. A roupa e o all star customizado escapam da produção industrial (pelo menos por enquanto), então qualquer cadarço pintado à mão entra para a categoria arte. E a caneca favorita? Você usaria uma caneca com uma foto sua mãe em Caldas Novas? Bom, eu prefiro uma caneca com uma ilustração bacana, autêntica, com cores, pra variar. Uma reprodução do Matisse no box do banheiro ou um cartaz numa exposição de arte rompe qualquer barreira que um dia possa ter havido entre arte e design.

Ficamos indignados, nos sentimos frustrados e até mesmo ofendidos quando alguém nos chama de "artista" (já vi acontecer várias vezes, eu inclusa), mas não paramos para raciocinar o quanto de artista temos em nós.
Desde a simples referência ao modernismo em um cartaz até na arrogância em tratar com o cliente, impondo a nossa vontade pessoal sobre as necessidades dele. Não estou dizendo aqui que artistas são arrogantes, mas o fato de fazermos um projeto maravilhoso, mas que não atenda as especificações do cliente nos leva um pouquinho mais pro lado da arte do que gostaríamos. E veja, isso pode ser ruim para o cliente, mas pra nós é até saudável aquele velho sentimento de "Cara, tá lindo! Se ele não quiser, eu quero".


Não vamos ser hipócritas, certo? Há momentos em que simplesmente sento na frente do painter e começo a testar brushes novos, sem intenção ou pretensão alguma, até que formas começam a surgir. Trabalho, brinco, apago, não estou nem aí se vai ficar bem acabado ou não, e aquelas preocupações naturais que às vezes engessam o trabalho de quem costuma mandá-lo para a gráfica. Faço porque preciso, porque sinto e acabo usando os meios que já conheço e trabalho há muito tempo, ou seja: softwares gráficos. Essa falta de preocupação no resultado final acaba nos libertando das obrigações formais e estéticas que o job do cliente sempre nos impõe. Estamos aí trabalhando para ninguém, só pra ver o quê vai dar, ou na melhor das hipóteses, para nós mesmos.

Gostando ou não, somos influenciados pela arte diariamente e nosso trabalho cada dia mais se mistura mais com ela, a ponto de em certas peças não sabermos dizer mais o que é arte pura, design com arte, somente design, ou nenhum dos dois, rs. Por essas e outras, revisitando jobs antigos, coisas recentes, publicados ou não, decidi aceitar o convite sim, e sabendo que não sou nenhuma artista plástica, resolvi dar a cara a tapa, aberta a críticas e até investir um pouco mais neste caminho de produzir mais coisas para mim do que para clientes. Na faculdade e no mercado isso sempre foi pecado mortal, mas cara.... como é bom experimentar! =)
 
ENTRE.LINHAS, é ao mesmo tempo uma exposição e uma pequena provocação, pois brinca com o fato de misturar arte e design profissional, tudo produzido digitalmente, sem se preocupar muito com a rotulação formal que costuma querer separar arte do design e o design da arte.

A exposição ENTRE.LINHAS fica no Espaço Cultural Flor da Costa em Pirenópolis de 01 a 20 de maio e a entrada é gratuita, com direito a bar e pub sextas e sábados.

Um comentário:

Míriam disse...

que massa! adorei o post... essa linha entre a arte e o design é muito tênue mesmo... lembro até hj de uma festinha no N Design: Design é arte. Design não é arte. kkk acho que tudo é relativo, depende do ponto de vista. Mas uma coisa é verdade, sendo design ou arte, temos que experimentar e nos libertar dos clientes de vez enquando...faz muito bem =)) bjs lindona!